02-04-2012 15:07

ciclo | AGÊNCIA - algumas formas ao alcance de todas as mãos II | Privado, público e comum (sessão UNIPOP)

31 de Março e 5 de Abril de 2012 | 18H30
The Barber Shop
(Rua Rosa Araújo, n.º 5, Lisboa - metro Avenida)

 

Tunísia. Um só país foi suficiente para desencadear uma avalanche de protestos e revoluções, do Egipto à Síria, pelo Norte de África e Médio Oriente, com resultados ainda ambíguos e por definir. Entretanto, as margens a norte do Mediterrâneo são banhadas pela especulação dos mercados financeiros, que saídos da bolha imobiliária da década de 2000 exploram agora a dívida externa. Enquanto a Troika (BCE-FMI-CE) volta a ceder empréstimos a países europeus, a União Europeia questiona discretamente a perenidade da zona Euro. A esta dinâmica acrescenta-se o vocabulário da ocupação, agora re-descoberto entre as ruas e o espaço virtual da internet.

Embora não pretendamos abordar a totalidade e complexidade de 2011, é-nos difícil sintetizar aqui um ano tão intenso sem sentir que se perderia algo da urgência que justifica fazer Agência: Algumas Formas ao Alcance de Todas as Mãos, uma segunda vez. Foram os eventos deste mesmo ano que nos convidaram a abrir o campo especulativo da edição anterior, ampliando o campo de acção para temas como a mediação pública da propriedade intelectual, e a exemplaridade do debate sobre a sua jurisdição para lá do virtual, bem como a intrusão do financeiro no quotidiano.

Da perseguição do Wikileaks ao encerramento do Megaupload, estaremos porventura a testemunhar uma viragem no potencial da internet, quer pelo seu crescente policiamento, quer pela sua capacidade regeneradora e produtora de novos modelos de partilha? No mesmo nano-segundo da transacção informática coexistem a liberdade de partilha como prometida pela internet e a acumulação de capital permitida pela financialização. Como poderemos compreender a ciclicidade das crises do capitalismo, ou a topologia das interacções de uma sociedade financializada, face aos modelos de feedback propostos pela cibernética estruturais à economia contemporânea? Questões como o regime de risco e de dívidocracia, reforçado pela crise europeia, bem como as suas consequências para uma acrescida precariedade laboral e para a mercantilização da propriedade intelectual, estarão em debate. De modo a abordar esta dinâmica será necessário, em última instância, fazer um levantamento das discussões sobre o Comum tidas ao longo da última década; qual a sua capacidade de resposta e quais as suas transformações actuais.


Agência: algumas formas ao alcance de todas as mãos é um projecto de Margarida Mendes, Mariana Silva e Pedro Neves Marques.

Mais informações e programa completo em www.thisisthebarbershop-agencia.com.

 

5 de Abril, Quinta-feira 18h30 | Sessão Unipop

Público, Privado e Comum por Ricardo Noronha (Unipop).

O papel da propriedade está hoje substancialmente alterado. A apropriação de bens materiais foi em tempos a essência da propriedade. Hoje, na sua forma imaterial, o capital procura apropriar-se sobretudo do comum, ou seja, do conjunto das relações colocadas em rede no processo produtivo – todos os aspectos da vida tornados objectos e sujeitos do que é produzido. Esta tendência do capitalismo para transformar o comum em propriedade privada produz, em simultâneo, as condições de resistência ao capitalismo e de construção de novas relações sociais baseadas na cooperação – o comum do comunismo. Por outro lado, o neoliberalismo acentuou a oposição entre a propriedade privada e a propriedade pública, uma tensão entre a compulsão para a apropriação particular e uma universalidade abstracta consubstanciada no Estado. O desenvolvimento do comum expressa a negação desta oposição, na medida em que é, em si e enquanto produção de subjectividades, a negação da noção de propriedade e, ao mesmo tempo, a sua auto-afirmação, «a afirmação da produção biopolítica aberta e autónoma, a permanente criação autogovernada de nova humanidade». (Debate a partir do texto 'O comum no comunismo', de Michael Hardt.)

—————

Voltar


Contacto



Agradecemos o envio de propostas de iniciativas, de artigos para a revista Imprópria ou de livros para a edição, bem como qualquer sugestão ou opinião acerca da actividade da Unipop.